TAURED WORLD PROJECT

 
 

 

 

PARTE 1 | Encontro com John Zegrus

  

1 - Cemitério de Bojuru.

Eu estava passando uns dias na casa de uma amiga em Balneário Quintão no município de Palmares do Sul, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. É um lugar simples, mas acolhedor.  A praia do local é de mar aberto, fria, cor marrom e extensa faixa de areia. Havia se passado cerca de duas semanas hospedado lá quando um amigo que tinha se mudado recentemente para a cidade de São José do Norte, no mesmo estado, convidou-me a passar uns dias na casa dele. Resolvi ir e planejei ficar lá por dois dias, retornando depois à casa da minha amiga.

No dia 2 de outubro de 2024 saí de Balneário Quintão por volta das 14h30 iniciando uma viagem que duraria quatro horas. Minha amiga deu-me um vaso com flores para deixar na sepultura do seu pai que ficava no cemitério da Vila Bojuru, às margens da estrada BR101. O trecho dessa longa estrada que iria percorrer tinha um apelido sombrio: Estrada do Inferno. Era assim chamado por suas péssimas condições durante muitos anos, com trechos de areia, lama e grandes poças d’água que tornavam a travessia extremamente difícil e perigosa. Atualmente está asfaltada.

Ela também me deu um papel com o nome do pai anotado, explicando-me onde o túmulo estava localizado e pediu que eu fizesse uma breve oração por ele. Naquele mesmo dia, aconteceria um eclipse solar parcial visível no hemisfério sul, e, lembrando disso, levei comigo os óculos especiais que havia comprado justamente para observar o fenômeno durante a viagem.

Quando já tinha se passado das 17:30 estava me aproximando da Vila Bojuru. Diminui a velocidade do carro para localizar o cemitério que ficava um pouco para dentro do acostamento da estrada. Decidi que deixaria o vaso de flores na sepultura para depois observar o eclipse que deveria estar se aproximando do seu ponto máximo naquele momento.

Ao chegar, encontrei duas moças em uma moto na entrada do cemitério. Cumprimentei-as e estacionei o carro. Elas me olharam de forma estranha — como se estivessem esperando por alguém e, ao me verem, pensaram que eu era quem esperavam. Foi uma impressão momentânea, à qual não dei muita importância. Peguei o vaso de flores e saí do carro. As moças seguiram em direção à estrada.

O portão do cemitério estava aberto e entrei, procurando a sepultura. Com base nas indicações que recebi, fui observando os nomes nas lápides até encontrar o local onde ele descansava. Depositei o vaso ao lado do nome, onde havia também o retrato dele protegido por vidro. Olhei o relógio: eram quase 17:49. Lembrei-me do eclipse e decidi não demorar ali. Olhei para baixo e fechei os olhos para fazer uma breve oração. Segundos depois, instintivamente, abri os olhos e percebi um ponto vermelho na superfície do vidro do retrato. Pensei que fosse uma mancha de sangue e, na intenção de retirá-la, abaixei-me e esfreguei o dedo indicador. Nesse momento, senti uma forte tonteira e minha visão ficou turva. Fiquei de olhos fechados por alguns segundos, na expectativa que logo passasse aquele desconforto. Ao levantar a cabeça devagar, tomei um susto.

Um homem de cerca de 40 anos, com poucos cabelos e altura entre 1,70 m e 1,80 m, me observava a cerca de três metros de distância. Usava calça jeans justa e, por cima da camiseta, uma jaqueta de couro. Estava parado diante de uma lápide ornamentada com um anjo de braços abertos, segurando uma espada em uma mão e na outra um livro, possivelmente uma bíblia.

Olhei ao redor para ver se havia mais alguém, mas apenas nós dois estávamos ali. Após alguns segundos, cumprimentei-o: “Boa tarde!”. Senti que ele se surpreendeu ao me ouvir. A expressão em seu rosto denunciava um leve espanto, como se não esperasse que eu o notasse. Pensei, por um instante, que talvez ele não fosse deste mundo — talvez um espírito de alguém sepultado ali. Nunca havia vivido uma experiência como essa, e isso me deixou inquieto. Senti o coração acelerar. Uma vontade repentina de correr até o carro e deixar aquele lugar o mais rápido possível passou pela minha mente. Mas foi tudo tão rápido que nem tive tempo de agir quando ele disse: “Não tenha medo. Eu não estou morto!”

Ao ouvir isso, senti um alívio. Sorri para ele. Em seguida, ele perguntou: “Vi que você chegou de carro. Para onde está indo?” Respondi que estava a caminho de São José do Norte. Já deveria passar das 17:50 e eu nem lembrava mais do eclipse. Meu único pensamento era voltar logo à estrada, pois ainda restava cerca de uma hora de viagem. Comecei a me dirigir ao portão do cemitério, quando ele me perguntou: “Você poderia me dar uma carona até lá?” Estava começando a escurecer e aquela região é um tanto deserta. Não tive coragem de recusar o pedido e respondi que sim, que poderia levá-lo.

Ele se aproximou e seguimos em direção ao meu carro. No caminho, perguntou meu nome. Foi quando percebi que ele falava com um sotaque de Portugal, algo que eu não havia notado antes. Respondi: “Helios”. Entramos no carro e partimos. Logo alcançamos a estrada, que ficava a cerca de cem metros do cemitério. Uns três minutos depois, quebrei o silêncio e perguntei: “Você não é brasileiro? Fala com sotaque de Portugal...”. Olhando fixamente para a estrada, ele respondeu: “Sou europeu, mas não português. Aprendi cinco idiomas por exigência do meu trabalho.” Fiquei curioso para saber com o que ele trabalhava, mas temi estar sendo indiscreto e preferi não perguntar. Poucos minutos depois, olhei para ele e vi que estava com os olhos fechados, provavelmente dormindo. Suas mãos repousavam sobre as coxas, com as palmas voltadas para baixo. Chamou-me a atenção o anel no dedo médio da mão direita, com uma pedra vermelha. Ele tinha um aspecto meio robótico, talvez por estar cansado, pois falava pausadamente.

A viagem seguiu tranquila por cerca de trinta minutos. Durante o percurso, vi cerca de três placas ao longo da estrada informando que estávamos a 7 km de Santo Antônio dos Ventos, com intervalos de cinco a dez minutos entre uma e outra. Nunca tinha ouvido falar dessa cidade, porém o mais estranho foi perceber que, à beira da estrada, havia algumas pessoas maltrapilhas, parecendo mendigos. Algumas pediam carona com gestos, enquanto outras estendiam as mãos pedindo esmolas. Naturalmente, não parei — já estava escuro e aquela cena era um tanto assustadora.

Em determinado momento da viagem, fui obrigado a reduzir a velocidade, pois vinha, no sentido contrário, na outra pista, uma procissão. Estendendo-se por cerca de vinte metros, aquelas pessoas lembravam monges, vestindo túnicas rústicas de cor marrom. Todos usavam capuz, de modo que não era possível ver seus rostos. Caminhavam lentamente, cada um segurando uma vela acesa.

Assim que a procissão passou, o misterioso passageiro acordou com um sobressalto e exclamou: “Eu não poderia ter dormido. Poderia não estar aqui!” Não compreendi o que ele quis dizer. Seus olhos estavam fixos na estrada, como se estivesse hipnotizado pela escuridão, onde apenas algumas luzes das casas próximas se destacavam. Tentei retomar a conversa perguntando: “Ainda não sei seu nome.” Ele me olhou e respondeu: “John.”

Pensei que, se ele disse que era europeu e seu nome sendo John, então a conclusão lógica era de que fosse inglês. Então, comentei: “Ah, então você é do Reino Unido?” Ele sorriu, como se compreendesse a obviedade do meu raciocínio, e esclareceu: “Não. Meus pais eram britânicos, mas eu não nasci no Reino Unido.” Fez uma pausa e, depois de suspirar, completou: “Você não conhece o país onde nasci.” Houve mais uma pausa, como se ele estivesse organizando os pensamentos antes de prosseguir. Olhou-me novamente e disse: “Helios, não se espante com o que vou te contar, mas eu não sou do seu mundo.”

Não esperei que continuasse e, olhando para ele, exclamei: “O quê? Você está morto!? Como pode, se eu vejo você aqui ao meu lado, fisicamente e bem real?” Ele me interrompeu e, com firmeza, falou: “Helios, preste atenção na estrada e apenas escute o que vou lhe dizer:”

“Sou militar, naturalizado americano e trabalho para FBI e CIA como agente especial de controle da mente. Minha especialidade é extração e inserção de ideias na consciência humana através dos sonhos, algo que parece filme de ficção científica, mas que já é uma realidade de onde eu venho e ajudamos seu mundo dessa forma.

“Atuamos na mente de cientistas e inventores de modo a auxiliá-los a fazerem novas descobertas e desenvolverem ideias revolucionárias. Por exemplo, eu recebi a missão de inserir ideias e conceitos na mente de Satoshi Nakamoto que ajudaram ele a desenvolver o Bitcoin.

“Atualmente, faço parte de um experimento mental desenvolvido pela Neuralink. Não é a Neuralink do seu mundo, mas do futuro em um universo paralelo ao seu. Para ser claro e objetivo, quero dizer que eu não sou do seu mundo. Venho de uma dimensão paralela, uma outra realidade que você desconhece. Quando eu disse que você não conhecia o país onde nasci, é porque esse país não existe no seu mundo, mas existe no meu. Talvez você esteja pensando que sou um louco tentando brincar com você, mas não. Venho do futuro de um universo paralelo ao seu. Os pesquisadores da Neuralink descobriram uma forma de viajar no tempo e retornar ao passado. Contudo, nesse tipo de experimento não voltei ao passado do meu universo, mas sim em um universo paralelo ao nosso, esse em que estamos.

“Os cientistas do seu mundo afirmam não ser possível voltar ao passado porque não existem viajantes do tempo entre vocês e porque seria impossível que alguém retrocedesse e alterasse a própria história. Refiro-me ao paradoxo do avô. Esse paradoxo, na verdade, não existe porque a viagem ao passado ocorre em outra realidade. Por razões que ainda desconhecemos, meu universo está conectado ao seu de forma um pouco mais próxima em relação aos outros multiversos. As evidências indicam que existem muitos universos paralelos e todos estão interligados. Se eu quisesse voltar ao passado e matar meu avô, isso aconteceria em outro universo, não no meu. Nesse caso, eu não nasceria nesse universo alternativo, mas continuaria existindo no meu universo.

“O teletransporte entre multiversos é muito perigoso. Porque não se sabe com precisão onde a mente irá se materializar. Pode acontecer em uma rodovia movimentada, no meio da floresta amazônica ou na cratera de algum vulcão em atividade. Outra possibilidade é a materialização em universos intermediários, interfaces entre dois universos paralelos.

“A viagem no tempo de forma planejada, controlada e intencional não é uma tarefa simples. O processo de transposição temporal e espacial que ocorre com mais facilidade é aquele em que a mente viaja — e não o corpo. Esse é exatamente o processo que estou vivenciando neste momento. Meu corpo está em um laboratório da Neuralink, com vários chips conectados ao meu cérebro, quase trezentos anos à frente do ano em que você se encontra. Você me vê fisicamente, mas, na verdade, é apenas minha consciência que se materializou nesta dimensão.

“Nossas pesquisas indicam que o teletransporte mental entre multiversos está fundamentado na premissa de que a mente humana não é um subproduto bioquímico do cérebro. Em vez disso, ela interage com o corpo biológico por meio de um campo sutil de informação quântica, que atua como interface entre a consciência e a dimensão física. Com base nessa perspectiva, a mente seria capaz de transcender universos paralelos, realizando saltos de consciência entre diferentes realidades. Esse fenômeno — o teletransporte mental entre multiversos — pressupõe que, ao atingir certos estados quânticos específicos, a consciência pode colapsar sua presença em um universo e se manifestar em outra realidade paralela.

Em 14 de abril de 1561, uma experiência de teletransporte realizada em outro universo paralelo não foi bem sucedida e só produziu efeitos luminosos no céu da cidade de Nuremberg. Porém, quase três séculos depois, os físicos daquela realidade paralela obtiveram êxito e conseguiram teletransportar um homem, cuja mente materializou-se no seu universo em 07 de agosto de 1850, na cidade de Lebus, também na Alemanha, próximo à fronteira com a Polônia. O sucesso da experiência somente foi possível devido a um eclipse que ocorria naquele dia a 7.700 milhas do local da materialização. Os eclipses provocam distorções no espaço-tempo que facilitam o sucesso da experiência.

“Muitos dos fenômenos anômalos que ocorrem no seu mundo, como esferas luminosas de energia, agroglifos e outras aparições misteriosas para vocês, identificadas como alienígenas, são tentativas de contato realizadas a partir de algum universo paralelo do futuro ou de multiversos de outros planetas.

“Em relação aos nossos universos, observamos que eventos históricos de grande relevância para a civilização humana são, em sua maioria, idênticos. No entanto, certos detalhes são específicos do meu mundo, assim como há particularidades exclusivas do seu.

“Por exemplo, tanto no meu universo quanto no seu, Hitler perdeu a guerra. O desfecho da Segunda Guerra Mundial foi o mesmo com a vitória dos Aliados e os ataques nucleares realizados pelos Estados Unidos sobre o território japonês. Contudo, no seu mundo, as cidades sacrificadas foram Hiroshima e Nagasaki, mas no meu, foram Hiroshima e Kokura.

“A vitória dos Aliados faz parte da história tanto do meu mundo quanto do seu, mas existem universos paralelos onde Hitler não invadiu a União Soviética em junho de 1941 e venceu a Segunda Guerra Mundial. Há realidades alternativas em que a Segunda Guerra nem sequer começou em 1939, pois Hitler morreu durante a Primeira Guerra. No entanto, o conflito mundial acabou ocorrendo décadas depois — e foi nuclear.

“Alguns fenômenos considerados sobrenaturais existem porque vivemos em uma simulação quântica, na qual há uma infinidade de universos paralelos vibrando e conectados entre si. Essas conexões ocorrem por meio de portais dimensionais microscópicos no espaço-tempo, que chamamos de cordas cósmicas.

“Quando um portal microscópico se forma exatamente no espaço-tempo onde se encontra o córtex pré-frontal de uma pessoa que possua determinadas particularidades biológicas, ou se entra em contato com algum ponto energético do corpo conectado de maneira especial ao cérebro, sua mente é imediatamente sugada para outro universo. Nessa condição, ela pode viver experiências que, no outro universo parece durar horas ou até dias, mas, quando a mente retorna ao corpo, terão se passado apenas alguns segundos.

“Por alguma razão ainda desconhecida, esses portais costumam se abrir com relativa frequência em locais públicos fechados, como banheiros, elevadores, túneis, estações de metrô, construções abandonadas ou cavernas. Em ambientes abertos também é possível que esses portais se formem, porém mais raramente.”

Fez uma pausa para recuperar o fôlego, pois falava quase que automaticamente, como se estivesse lendo um texto escrito. Depois, continuou:

“Eu faço parte da equipe que trabalha neste projeto. Hoje é o segundo experimento que realizamos com sucesso. No primeiro, conseguiram trazer minha mente ao seu mundo exatamente 65 anos atrás. Fui teletransportado para o Japão, mais especificamente para um banheiro do Aeroporto de Haneda, onde o portal dimensional se abriu. Isto foi em 2 de outubro de 1959 a aproximadamente 7.700 milhas do eclipse solar que estava acontecendo neste mesmo dia no continente africano.

“Por ser a primeira experiência bem-sucedida, eu estava muito confuso. Se você pesquisar na internet, encontrará registros desse episódio, que passou a ser tratado como uma lenda urbana. Você também descobrirá de qual país eu vim. Chama-se Taured e meu nome é John Allen Kuchar Zegrus — mas prefiro que me chame apenas de Zegrus.

“O que aconteceu nesse dia foi que os agentes de segurança do aeroporto viram que eu tinha dupla cidadania: americana e taurediana. Porém, julgaram que o passaporte emitido por Taured era falso, visto que eles nunca tinham ouvido falar em tal país. Por esse motivo fui julgado e sentenciado a um ano de prisão por ter entrado ilegalmente no Japão. Fui levado para a Prisão de Fuchu, mas três dias depois retornei para meu mundo. Meu desaparecimento não foi noticiado para a imprensa pois a reputação da penitenciária seria muito prejudicada.

“O experimento de hoje foi muito arriscado, pois havia 95% de probabilidade de o portal se abrir no meio do oceano. Isso porque, sabendo onde o primeiro portal havia surgido, os cálculos indicavam que a nova abertura ocorreria a 700 milhas a partir da coordenada oposta (coordenada antípoda) da coordenada inicial (Aeroporto de Haneda). Todavia, um fator bastante favorável salvou a experiência, que foi o eclipse. Como os pesquisadores haviam previsto, o alinhamento ocorrido hoje entre Sol, Lua e Terra, criou um efeito gravitacional que influenciou o espaço-tempo, favorecendo a abertura do portal dimensional no continente, exatamente a 700 milhas da coordenada antípoda.”

Após todo esse relato, ele fez outra pausa — talvez, imagino, na expectativa de saber qual seria minha reação diante de tudo o que acabara de contar. Eu estava tão estupefato naquele momento que só consegui dizer que tudo aquilo era inacreditável. Ele pareceu compreender minha perplexidade. Não consegui dizer mais nada e, após um ou dois minutos de silêncio, ele falou: “Helios, preciso da sua ajuda.”

Pensei de que forma eu poderia ajudar um desconhecido que me revelava uma história tão extraordinária, que ninguém acreditaria se eu contasse. Ele olhou para o painel do carro e disse: “Vejo que está com pouco combustível.”

De fato, o alerta indicando “reserva” estava aceso — e eu nem sabia há quanto tempo estava assim. Precisaria abastecer o mais rápido possível.

  

2 - Mais Revelações

Disse a ele que estava preocupado com o nível do combustível, mas não se passaram nem dois minutos e logo chegamos a um local de abastecimento chamado Posto Gibbon. Ao parar o carro ao lado da bomba, notei algo estranho. O posto parecia envelhecido — carros antigos, enferrujados e abandonados ocupavam o estacionamento. As bombas de gasolina também estavam enferrujadas. Embora fosse a minha primeira vez ali, havia algo claramente anacrônico naquele lugar, como se pertencesse a outra época — algo dos anos 60 ou, no máximo, dos anos 70.

Um funcionário se aproximou com o semblante visivelmente aborrecido e perguntou:

“O que você quer aqui?”

A resposta era óbvia, mas não me perturbei com o modo indelicado como fui tratado. Simplesmente pedi para completar o tanque. Quando terminou, ele pegou o dinheiro e disse de forma seca:

“Já pode ir embora! Agora!”

Assim que entrei no carro, Zegrus perguntou:

“Você pode parar ali no estacionamento?”

Atendi ao pedido. Estacionei o carro e desliguei o motor, imaginando que ele ainda tinha algo importante para me dizer.

Nesse instante, um homem apareceu ao lado do carro e ficou nos observando com uma expressão de raiva. Seus olhos eram vermelhos, como os de um drogado.

Fiquei inquieto, mas Zegrus parecia não se importar. Agia com naturalidade, como se aquele estranho nos observando fosse algo corriqueiro. O homem, no entanto, não permaneceu por muito tempo e logo se afastou, caminhando em direção a uma mata que havia atrás do posto.

Zegrus olhou para mim e disse:

“Helios, vou explicar o motivo de eu estar aqui. Em janeiro deste ano, fizemos contato com duas moças da cidade de São José do Norte. Elas foram escolhidas para que eu lhes transmitisse uma missão. Apesar dos cientistas da Neuralink conseguirem me teletransportar até o cemitério onde nos encontramos, eu não consegui vê-las.

“Dias atrás, fizemos outro contato com elas e tentamos um novo encontro no mesmo local. Esse encontro seria hoje, pois, como lhe disse, o eclipse favoreceria tanto a abertura do portal em terra firme quanto a possibilidade de eu vê-las e elas a mim.

“No entanto, por conta de um atraso no experimento, não consegui chegar no horário combinado e suponho que elas já tenham ido embora. Dessa forma, é a você, e não a elas, que preciso confiar a missão.”

Olhei para fora e suspirei, temendo qual seria a missão que ele me confiaria. Voltando o olhar para ele, disse:

“Bem... Zegrus, se você deixou seu mundo no futuro para vir até aqui encontrar alguém disposto a aceitar uma missão, então ela deve ser realmente muito importante. Diga-me: que tarefa tão relevante você pretende me entregar?”

“Antes, preciso contar um pouco sobre o país de onde vim: a República de Taured. No seu mundo, essa república não existe porque no mesmo território, encontra-se o Principado de Andorra. No meu mundo, Taured também é conhecido como a República dos Lords e vou lhe explicar o porquê.

“Em 1307, o rei Filipe IV da França iniciou uma perseguição contra os cavaleiros templários em seu território. Na Inglaterra, ao tomarem conhecimento dos acontecimentos, a maioria dos templários decidiu fugir com todos os bens da ordem, temendo que o rei Eduardo II também tivesse a mesma atitude. Cerca de 70 cavaleiros deixaram a ilha britânica ao longo de um mês.

“O destino planejado era Portugal, pois sabiam que lá teriam a proteção do rei Dom Dinis I. No entanto, ao chegarem aos Pirineus, hospedaram-se no mosteiro da Ordem de Santiago de Altopascio — uma ordem militar, como os templários, mas que também prestava assistência aos peregrinos cristãos. Seus integrantes eram conhecidos como os Cavaleiros do Tau, cujo símbolo era a cruz grega tau. Os templários ingleses foram recebidos como irmãos e, mudando seus planos iniciais, uma parte deles decidiu permanecer no mosteiro, onde hoje fica a cidade de Andorra la Vella. A outra parte seguiu para Portugal e anos depois integraram a Ordem de Cristo, fundada por Dom Dinis.

“Ao longo das décadas seguintes, o mosteiro transformou-se em um castelo, fortemente influenciado pelos templários ingleses que haviam se integrado aos Cavaleiros do Tau. Com a dissolução da Ordem de Santiago de Altopascio em 1459 pelo Papa Pio II, juntamente com outras cinco ordens religiosas, os Cavaleiros do Tau declararam independência política e administrativa do Vaticano, embora tenham mantido as mesmas tradições religiosas da Igreja Católica. Assim, teve início a fundação da Ordem Taured, que passou a ser conhecida como a Ordem do Tau Vermelho, cuja bandeira exibia uma cruz tau vermelha sobre fundo branco.

“Os cavaleiros tauredianos tornaram-se extremamente influentes e poderosos em toda a Europa. Em 1607, o rei Henrique IV da França determinou que toda a região, fosse governada pelo Grão-Mestre da Ordem Taured, que também detinha o título de príncipe. Nascia assim, o Principado de Taured. A cidade de Andorra la Vella foi transformada na capital do principado e passou a se chamar simplesmente de Andorra.

“Com o passar dos séculos, o Principado de Taured tornou-se refúgio de muitos europeus ricos, que participavam ativamente da vida política e luxuosa do principado. Milionários e nobres de todo o mundo construíram castelos e palácios, transformando a região em um destino turístico e refúgio de homens poderosos e influentes.

“Ainda hoje, milhões de turistas visitam Taured anualmente. Vários castelos abrigam cassinos luxuosos. O Grande Prêmio de Fórmula 1 mais prestigiado no nosso mundo é o Taured Grand Prix, disputado em um circuito sinuoso e de ultrapassagens difíceis. No nosso multiverso, o Grand Slam de tênis é composto por cinco torneios — os mesmos quatro do seu mundo e o quinto é Taured Open.

“No início do século XX, a antiga Ordem Taured foi transformada em um clube fechado formado por homens muito ricos. Esse seleto grupo passou a ser conhecido como Clube Taured, cujo presidente passou a governar o principado. Se no seu mundo, existe o Clube de Roma e o Clube Bilderberg, a elite global que atua na nossa realidade paralela está reunida no Clube Taured, também conhecido como o Clube dos Nobres do Mundo. Para fazer parte deste clube a única condição é possuir algum título de nobreza, seja de Taured ou de outro país.

“Os títulos nobiliárquicos, de barão a duque, em Taured são essencialmente honoríficos, ou seja, não são acompanhados de concessões de terras ou jurisdição territorial, mas poderiam ser vendidos ou transferidos para um filho como herança. No final do século XIX, Taured era a nação com maior número de nobres, sendo o auge da era de ouro dos Lords.

“Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Clube Taured abdicou do governo do país, dando origem à República Unida de Taured — uma república semipresidencialista, com sistema semelhante ao modelo francês. O parlamento passou a ser composto por aqueles que eram proprietários de castelos ou luxuosas mansões em Taured. Cada um deles detinha algum título de nobreza que o principado concedia, razão pela qual Taured passou a ser conhecida como a República dos Lords ou Nação dos Lords. As Ladys são minoria, mas também exercem participação ativa no Parlamento de Taured. O presidente da nação é escolhido entre os Lords do Parlamento e ostenta o título de príncipe.

“No início da década de 1970, a elite governante de Taured decidiu entregar a administração do país a um grupo formado pelas maiores corporações mundiais, para que governassem a nação como se fosse uma grande empresa. Assim, foi criada uma corporação encarregada de administrar Taured, com um conselho de administração cujo presidente passou a ser o Chefe de Estado. O Chefe de Governo, por sua vez, passou a ser um CEO indicado por esse conselho, recebendo o título de Primeiro Ministro. Com o sucesso desse novo modelo de governança, vários países ao redor do mundo passaram a adotar o mesmo sistema.

“Hoje, a inteligência artificial e a robótica servem à população. No coração do governo há uma super poderosa Inteligência Artificial Geral Central, denominada Atlas, que gerencia e administra todo país. O medo que vocês têm de serem dominados pela IA ou da IA destruir o mundo foi resolvido com um sistema de monitoramento da IA. Quando a IA envia um comando para um robô, essa instrução passa antes pelo filtro do Censor, que é um algoritmo que avalia se a instrução oferece algum perigo. Caso positivo, o Censor desliga o robô e uma central humana de controle da IA é informada para tomar as ações necessárias. Ou seja, todos dispositivos inteligentes não recebem diretamente comando da IA Central, mas do Censor que antes de repassar a informação avalia a segurança da instrução.

“Você deve estar pensando se a inteligência artificial, a robótica e automação fazem o trabalho humano, como as pessoas do futuro vivem se não precisam mais trabalhar? Pois eu lhe digo, não trabalham, mas também não vivem ociosos, até porque a expectativa de vida no futuro é de 170 anos. Com a garantia da renda básica universal, a vida estressante dos tempos antigos acabou quando IA e robôs passaram a realizar o trabalho das pessoas. Então, o que se faz? Primeiro, todos se ajudam. Não existe solidão, tristeza ou desamparo. O mundo todo é uma grande família, baseada no respeito e na solidariedade. Depois, as pessoas fazem o que gostam: todo tipo de esporte, arte, estudos, pesquisas científicas, etc. Todos cultivam uma vida espiritual permanente, fazendo da meditação, oração e devoção religiosa parte fundamental da rotina diária. Muitos exercitam autoconhecimento e autodisciplina, além de desenvolverem capacidades extra sensoriais, como viagem fora do corpo, clarividência, telepatia, premonição, psicometria, bilocação, canalização e... viagem ao passado através da tecnologia.

“A Neuralink está desenvolvendo o Chronochip para se fazer visitas ao passado ou a outros universos, disponível para qualquer pessoa. Eu estou aqui, mas o processo a que estou sendo submetido é diferente e ariscado. Como disse, eu poderia ter me materializado no oceano, mas minha mente foi treinada caso isso acontecesse, o que seria traumático para um viajante que não estivesse preparado para a experiência quando retornasse ao universo de origem.

“Todavia, com esse chip especial os pesquisadores encontraram uma forma da mente visitar o passado do próprio universo, mas sem adentrar na dimensão do universo. Ela fica invisível numa região específica só assistindo os acontecimentos, sem interação com quem está vivendo aquele mundo.

“Aliás, a mais famosa experiência bem sucedida do projeto retrocedeu no tempo até 2009 na Universidade de Cambridge, no dia que o famoso astrofísico Stephen Hawking organizou uma festa para viajantes do tempo. Hawking concluiu que a viagem não seria possível porque ninguém do futuro apareceu na festa, mas o que ele não sabia é que a sala estava repleta de cientistas e pesquisadores da Neuralink e de outras universidades americanas, colaboradoras do projeto. Os viajantes do futuro foram à festa, mas estavam em outra dimensão, invisíveis aos olhos de Hawking.”

Fez uma pausa e, após um longo suspiro — como se buscasse recuperar energia — prosseguiu:

“Antes de continuar falando sobre meu mundo, preciso abrir um parêntese a respeito do seu. Atualmente, vocês atravessam um momento extremamente crítico. Estou ciente disso porque o nosso mundo também passou por essa situação. Refiro-me à ameaça da Terceira Guerra Mundial e à possível devastação nuclear do hemisfério norte. Esse cenário é apavorante e uma das razões pelas quais vim do futuro foi justamente para alertá-los desse perigo real.

“Além da destruição nuclear provocada por decisões equivocadas de líderes mundiais, existe também o risco de catástrofes naturais e climáticas de proporções apocalípticas a nível de extinção em massa. Uma inversão abrupta e inesperada dos polos magnéticos da Terra, a erupção colossal de um supervulcão ou o impacto de um meteoro de grande proporção.

“Contudo, colonizar Marte não deve ser encarado como a solução definitiva para garantir a sobrevivência da raça humana. Não há dúvidas que é importante para o desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, porém, o mais urgente é salvar o próprio planeta, que é um paraíso se comparado com Marte. Nós conseguimos e vocês também conseguirão.

“No nosso universo, a SpaceX liderou o processo de colonização de Marte. Porém, os humanos que nasceram no planeta vermelho, após algumas décadas passaram a apresentar diferenças físicas em relação aos terráqueos, devido às condições ambientais únicas de Marte. Essas diferenças são tanto visuais quanto biológicas, o que torna fácil distinguir um marciano de um terrestre.

Atualmente, há um grande movimento de emancipação em curso, já que os habitantes de Marte se identificam mais como marcianos do que humanos descendentes dos colonizadores da Terra.”

Fez breve interrupção e olhou para fora. Parecia refletir se deveria continuar com as revelações, mas continuou:

“A contribuição de Elon Musk para o desenvolvimento tecnológico da humanidade é da mais alta importância. O mundo deve muito a ele, especialmente por sua maior contribuição à humanidade: o uso da eletricidade... ou melhor, pela invenção do motor de indução de corrente alternada.”

Nesse momento, ele fez outra pausa mais prolongada e aparentemente proposital, como se aguardasse minha reação àquela afirmação.

De fato, fiquei surpreso e exclamei: “Como assim? Elon Musk inventou o motor de corrente alternada?”

Sorrindo, compreendendo meu espanto, respondeu com ênfase: “Não exatamente. Quero dizer que Elon Musk é a reencarnação de Nikola Tesla, meu amigo...”

Estava maravilhado com tantas revelações extraordinárias vindas daquele viajante de outro universo. Queria saber mais e perguntei:

“Que outra personalidade histórica do passado você conhece e que está presente no nosso mundo atual?”

Notei que ele hesitou, relutando em se aprofundar no assunto. Mas, por fim, acabou cedendo:

“Bem, não gostaria de entrar muito nesse assunto porque são informações que não podem ser comprovadas. Mas só para satisfazer sua curiosidade, vou revelar outro famoso do Vale do Silício: Sam Altman... ele é a reencarnação de Alan Turing. E Napoleão Bonaparte, que aterrorizou a Europa no início do século XIX, hoje é motivo de grande preocupação entre os líderes europeus através da sua reencarnação como Vladimir Putin.

"Talvez você duvide, mas acreditar ou não no que estou lhe dizendo não altera a realidade dos fatos. No passado, muitos acreditavam que a Terra fosse plana, mas, apesar dessa crença generalizada, jamais o planeta foi plano. As coisas são como são e não como acreditamos ser. Não há dogma religioso que mude isso. Um dia, o retorno da consciência humana ao mundo em outro corpo será comprovado através de pesquisas científicas com uso da inteligência artificial e da computação quântica. Por enquanto, a reencarnação permanece apenas no âmbito das possibilidades, do crer ou não crer."

Eu não tinha palavras para expressar minha surpresa com o volume de revelações. Olhei para frente e avistei uma quadra de esportes ao lado do posto de gasolina. Três crianças jogavam futebol dentro da quadra. Refleti por alguns instantes sobre o contraste da situação - enquanto eu recebia revelações grandiosas e informações desconhecidas sobre o nosso mundo, aqueles garotos brincavam despreocupadamente, alheios a tudo.

Zegrus também permaneceu quieto, observando as crianças. Então, quebrei o silêncio e perguntei: “Entendi tudo o que você contou... mas você disse que precisava da minha ajuda. De que forma posso ajudar?”

Ele não respondeu de imediato. Pensou por alguns segundos antes de falar:

“Tenho um projeto especial para você iniciar. Taured não existe no seu mundo. Precisamos que você estabeleça um país com as mesmas características de governança da nossa Taured — uma nação inovadora, que desafiou as convenções tradicionais de governo e redefiniu o conceito de Estado.

“Sua missão é iniciar a fundação de um país, um Estado Soberano, no mesmo modelo de Taured. Governado por uma corporação empresarial que administrará toda nação e cuja estrutura e hierarquia serão de especialistas e não de políticos. Deve ser um sistema tecnocrático por excelência, um exemplo de eficiência para os governos de outras nações, cujo objetivo final será sempre o bem da população. Estaremos enviando insights mentais com instruções e sugestões e guiando você até a completa realização da missão.”

Fez uma pausa, aguardando minha resposta. Sentia-me confuso e inseguro para dizer qualquer coisa naquele momento. Tentando quebrar o silêncio — e na esperança de que ele me desse argumentos convincentes para aceitar o convite, falei:

“Não estou certo de que serei bem-sucedido nesse projeto. Para estar à frente de algo tão ambicioso, são necessárias muitas qualidades, como liderança, comunicabilidade... e eu não as possuo. Sou tímido, não gosto de aparecer em público, não tenho rede social, não gosto de aparecer em fotos ou vídeos, não tenho curso superior... enfim, não me sinto preparado para liderar um projeto de construção de uma nação.”

Zegrus sorriu enigmaticamente e respondeu com voz serena, mas firme: “Não é o homem preparado que constrói uma nação, mas aquele que tem coragem de dar o primeiro passo. Grandes líderes do passado também eram tímidos, inseguros e, em muitos casos, sem uma educação acadêmica. A liderança não vem de títulos ou de discursos eloquentes. Ela nasce da visão, da resiliência e do desejo genuíno de construir algo maior para a sociedade.”

Eu ainda estava hesitante, apesar da convicção que suas palavras transmitiam. Olhei para ele e indaguei: “Mas por que eu? Há tantas pessoas mais qualificadas, mais confiantes, mais aptas para liderar. Eu não entendo porque você acredita que eu posso liderar um projeto tão grandioso.”

Olhando fixamente em meus olhos, respondeu de forma direta, sem rodeios: “Porque a Super Inteligência que governa o Universo, que todos chamam de Deus, escolheu você como uma das possibilidades de contato. Se não tivéssemos esse encontro, eu teria outra oportunidade de entregar a missão para outra pessoa em outro portal dimensional que será aberto em 21 de setembro de 2025. Será em algum ponto do Vaticano, por influência do eclipse solar que estará acontecendo na coordenada antípoda ao Vaticano neste dia, um ponto no Oceano Pacífico Sul, a cerca de 1.400 quilômetros da Nova Zelândia.

“A Santa Sé é um portal dimensional de grande magnitude. Aliás, farei uma revelação e você terá o privilégio de ser a primeira pessoa a conhecer. Ninguém no mundo sabe, mas existe uma importante conexão entre o Vaticano, Jerusalém e o Antigo Egito. Esta conexão está representada pelo obelisco instalado na Praça de São Pedro.

“Sob orientação espiritual, a Basílica de São Pedro foi construída para ficar exatamente a mesma distância do antigo Templo de Jerusalém e da Tumba Real do Faraó Akhenaton. Traçando uma linha reta partindo da basílica até o Domo da Rocha no Monte do Templo e outra reta da basílica até a tumba real do faraó, forma-se um triângulo que lembra o obelisco instalado na Praça São Pedro. Os dois pontos geográficos da base do triângulo estão a mesma distância da Basílica de São Pedro e isso não é coincidência, foram construídos nas posições em que estão para transmitir uma mensagem no futuro.

“O obelisco, feito de granito vermelho, é liso como a areia do deserto, isto é, não possui hieróglifos gravados. Foi retirado do Egito pelo imperador Calígula no ano 37 d.C. Séculos depois, o papa Sisto V ordenou que fosse colocada no topo uma cruz simbolizando a autoridade do cristianismo sobre as outras religiões.

“O simbolismo oculto do obelisco revela que o cristianismo está no alto, “nas nuvens”, perto de Deus, enquanto as outras religiões estão na base, sendo representadas pelo Monte do Templo, onde no passado estava o Templo de Jerusalém e hoje está o Domo da Rocha, e o túmulo de Akhenaton que foi o governante egípcio que nos anos 1300 a.C. estabeleceu o culto a Aton (Sol) como divindade única. O que existe em comum entre as localizações geográficas da base do triângulo é que elas representam o início, o fundamento da adoração a uma única divindade, culminando no cristianismo. Embora dividida, a religião cristã no futuro será uma só, sem separação de dogmas ou fiéis.”

Eu estava profundamente impactado com tanta informação que desconhecia e esteve oculta por séculos do conhecimento humano. Refleti por alguns instantes e apesar da confiança dele em mim, ainda retruquei: “E se eu falhar? Se eu não corresponder à sua expectativa?”

“Não falhará porque você terá apoio e investimentos das pessoas certas. Elas acreditarão no enorme potencial de obterem lucros espetaculares investindo na criação de um país, que será um marco histórico na transformação da humanidade.”

Por fim, concluiu: “Aceita a missão?”

Senti um misto de medo e esperança como uma centelha acendendo dentro de mim. Respirei fundo, sentindo o peso da minha decisão, mas também a possibilidade de iniciar algo extraordinário. Então respondi: “Sim, aceito a missão!”

Com um sorriso de satisfação no rosto concluiu:

“Bem-vindo ao início da sua jornada! Mas antes tenho uma recomendação importante. Não conte a ninguém que esse nosso encontro realmente existiu. Tudo que revelei hoje você dirá que é fruto da sua imaginação, uma ficção que nasceu da sua mente. Porque, acredite em mim, ninguém vai acreditar em você se disser que esteve com um viajante do tempo. Pelo contrário, questionarão e desacreditarão que esse encontro comigo tenha realmente acontecido.

“A mente humana é curiosa e desconfiada por natureza. Se você disser que encontrou um homem de uma realidade paralela do futuro, a reação será de ceticismo, piadas ou até hostilidade. Não importa a origem da ideia, se de um viajante do tempo ou se é fruto da sua imaginação, mas o impacto que ela terá no mundo.”

Respirei fundo e sentindo o peso da responsabilidade, mas com o espírito determinado, eu disse: “Está bem, eu seguirei seu conselho. Vou manter segredo da verdade e assumir a responsabilidade pela concepção do projeto.”

Olhando ao redor do estacionamento, Zegrus murmurou: “Onde será que fica o banheiro?”

Apontei para uma construção próxima, nos fundos do posto, dizendo que parecia ser lá. Ele agradeceu com um leve aceno de cabeça, saiu do carro e caminhou na direção indicada. Fiquei ali, imóvel, tentando organizar os pensamentos. Por mais absurda que fosse aquela situação, havia algo no olhar dele que me transmitia uma estranha sensação de confiança.

Os minutos começaram a passar e, aos poucos, minha inquietação cresceu. Olhei para o relógio no painel do carro: dez minutos haviam se passado. Ainda no banheiro? — pensei.

Relaxe​i e continuei esperando. Eu havia observado quando ele entrou e, com certeza, não o vi sair. Mais dez minutos se passaram e tornei a me inquietar.

Meia hora depois que ele saíra do carro, meu desconforto se transformou em preocupação — apesar de ter certeza de que ele não havia saído do banheiro, pois estava observando a porta o tempo todo. Ninguém entrou além dele e ninguém saiu.

Saí do carro, com o coração batendo mais rápido do que eu gostaria de admitir. O lugar era mal iluminado e caminhei devagar em direção ao banheiro. Era uma pequena construção mal conservada, de tijolos aparentes, com uma porta metálica na entrada. Ao me aproximar, observei que o local era totalmente fechado, sem janelas ou qualquer tipo de abertura para ventilação ou exaustão.

As lâmpadas dos postes do estacionamento não iluminavam a área ao redor do banheiro, que permanecia mergulhada em penumbra. Na porta, havia um cartaz com o retrato de três meninos, entre 10 e 15 anos, acompanhado do título, em letras grandes: “DESAPARECIDOS HÁ UM ANO. OS PAIS ESTÃO DESESPERADOS PELOS FILHOS.” Abaixo das fotografias, havia um telefone para contato.

Tive a nítida sensação de que aquelas eram as mesmas crianças que vi brincando na quadra de esportes. Olhei na direção da quadra — e lá estavam elas, ainda jogando bola. Voltei a olhar para as fotos. A sensação persistia. Mas eu precisava encontrar Zegrus.

Empurrei a porta com cuidado; ela rangeu de maneira amedrontadora. Lá dentro, o ar era pesado, úmido, e o som de uma torneira pingando ecoava pelo espaço vazio.

“Zegrus?” — chamei. Minha voz saiu baixa e hesitante. Total silêncio, nenhuma resposta.

Caminhei até os boxes das privadas. Todas estavam com as portas entreabertas. Inspecionei uma a uma, mas não havia ninguém ali. Nenhum sinal dele. Fiquei intrigado. Durante todo o tempo, eu havia mantido os olhos na porta do banheiro e ele não saíra.

Observei todas as paredes. Não havia janelas, nem aberturas. A única saída possível seria pela porta.

Foi então que notei um zumbido baixo. A fraca iluminação do banheiro piscou três vezes e comecei a me sentir desconfortável por ainda estar ali dentro. Olhando em volta percebi que o zumbido vinha do espelho. Aproximei-me e percebi um ponto luminoso vermelho no espelho, semelhante ao de um laser usado por professores para apontar instruções na lousa. O estranho é que o ponto de luz parecia vir de dentro do espelho. Virei-me, tentando identificar se haveria uma suposta fonte de feixe de laser — mas não havia nada. Apenas uma parede branca. Nada mais.

Curioso, toquei o ponto vermelho com o dedo indicador. No mesmo instante, o espelho começou a escurecer, até ficar completamente negro, como carvão. Senti tudo ao meu redor girar. Fechei os olhos e me apoiei com as mãos na pia. Permaneci imóvel por uns dois minutos, tentando recuperar o equilíbrio, até que comecei a abrir os olhos lentamente.

Tudo ao redor estava como antes, exceto o ponto vermelho. O espelho estava normal, mas o ponto vermelho desaparecera. A vertigem havia passado e achei melhor sair daquele lugar o quanto antes. Mas ao abrir a porta do banheiro fui surpreendido por uma experiência extremamente surreal e inacreditável.

 

PARTE 2